sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

POBRES ( II )

Temos um bom emprego.
Somos trolhas.
Somos mal pagos, não temos regalias.
Somos os novos escravos.
Somos técnicos de vendas...vendemos o sexo.
Somos técnicos de electrónica...roubamos auto-rádios.
Fazemos biscates.
Vivemos a dias.
À tarefa.

Moramos numa suite nupcial...
Uma barraca, num bairro de lata,
Moramos num palácio de uma assoalhada...
Vivemos doze, a monte.
Não há promiscuidade.
Moramos numa pensão...
Um recanto de uma montra.
Moramos num hotel de muita estrela...
Um banco de jardim.
Moramos numa rua...
Debaixo de um cartão.
Com ar condicionado...
Frio no inverno e quente de verão.
O nosso colchão é a pedra, debaixo dos nossos ossos.
Os nossos lençois são a ropa do dia a dia que por sinal já viu melhores dias.
A casa de banho é um recanto escuro, uma árvore.
Lavamos a cara no repuxo do jardim.
Almoçamos num restaurante de luxo...
Uma farta refeição num caixote do lixo, numa rua suja e escura.
Uma côdea de pão rija e suja.
O nosso prato, é a palma da nossa mão.
A nossa camisa, a nossa toalha de mesa,
E, o nosso guardanapo, é a manga do nosso casaco.

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