POBRES ( I )
Fugidos do campo
Chegam à cidade,
Deslumbrados,
Que lhes promete melhor vida.
Emprego.
Salário.
Habitação
Sonho efémero que acaba milhares de vezes:
Num caixote do lixo, procura algo abandonado,
Arrumam carros, a troco de uma moeda.
Chafurdam no alcool, na droga.
Numa praça, de mão estendida, pedem esmola.
Numa rua, de noite, vendem o corpo.
Numa barraca, num bairro de lata,
Num passeio, debaixo de um cartão.
Num banco de jardim, ao relento.
Sentem vergonha,
Em assumir a pobreza em que vivem,
A que foram votados.
Desistem.
Vegetam.
Escondem-se.
São criticados.
Apelidados de langões.
Esquecidos.
Ignorados.
Projectos de luta contra a pobreza.
É politicamente correcto.
Com nomes pomposos.
Elegem-se comissões com comissários.
Influencias políticas e políticos.
Fala-se de milhões.
Estende-se a mão à comunidade europeia,
Mas... a mama secou.
E os pobres cada vez mais pobres.
Fazem-se, da pobreza, selecções.
Não são pobres, são carenciados.
Ganha, quem sabe chorar.
Poucos conhecem os seus direitos.
Começa a corrida aos apoios.
Os atletas, descalços e esfarrapados,
Assumem posições.
Foi dado o tiro de partida,
A linha de meta não se vislumbra.
Talvez noutra encarnação,
Nasçam remediados,
Ou porque não milionários.
Se pobres são, que não o sejam a pedir.
E para os calar:
Talvez lhes dêm outra vez
A consoada no próximo natal.
Júlio Ribeiro
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