A bela e o mestre
Ou o entronizar da ignorância


Domingo à noite.
No horário nobre
Que de nobre nada tem.
Mais um concurso misto
Talk show erótico e big brother
Top de audiências e,
Para suprir outras carências
Anulam-se as inteligências
À sombra dos corpinhos de luxo.
Quando bela é sinónimo de vazio.
Senta-se na secretária
E ouve-se o UUUUUUUUUU!
Da assistência.
Na primeira foto mostrada
Freitas do Amaral
Que a concorrente não conhece,
Nunca viu,
Não sabe quem é!
E o público aplaude de pé.
Uma gravura de Camões
E a Bela,
De corpo formoso, bem torneado,
Vestida para “matar”,
Ah! Como Camões iria ficar inspirado
Com estas Tágides do Tejo…
Fica na dúvida…e depois de muita ajuda
— Camões? Pergunta a medo.
Mostram o Ché
E a Bela não sabe quem é!
Mas ri-se muito,
Muito satisfeita
De cima da secretária
Do alto de toda a sua ignorância.
E o público aplaude de pé.
E a câmara foca na plateia
Muito alegres e contentes,
Dando vivas e
Batendo muitas palmas
Amigos e pais.
Desisti.
Não dava para ver mais.